Hoje, como mostrou a Revista JC, é muito forte a presença de grandes artesãos no Agreste pernambucano, que trabalham com barro e madeira e começam a ter seus produtos em todos os mercados de artesanato do País. O que há em comum entre os de hoje e o mestre de Caruaru: a pobreza. Vitalino morreu como viveu, na extrema pobreza, embora seu nome viesse a se transformar em uma grife.
A localização da nova arte popular pernambucana no Agreste tem um espaço privilegiado em Garanhuns, onde a advogada Ielma Lucena desenvolve um trabalho de valorização do artista popular como nunca se viu na região. Ela foi superintendente do INSS em Pernambuco, advogou, circulou por outras terras brasileiras e viu lá fora, em outros países, o prestígio que se dá ao artesanato. Por várias razões, em que se destacam duas: a preservação de uma cultura e o estímulo à geração de renda produzida por um mercado cada vez maior de gente que circula pelo mundo e procura quase sempre encontrar as raízes dos lugares por onde passam.
Com esse aprendizado foi que nasceu em Garanhuns a Galeria Mãos da Terra e a atividade artesanal sobressaiu nos últimos oito anos, com a revelação de nomes de quem nunca se tinha ouvido falar na região. Alguns deles já chegaram a galerias e salões do Sudeste e até do exterior. E, apesar de este trabalho representar a preservação de uma atividade que estava a cada dia mais ameaçada pela cultura globalizada nos grandes centros urbanos, mesmo quando se considera que também o artesanato representa um mercado expressivo e inesgotável, falta apoio oficial, diz a advogada: "Nem sempre os órgãos percebem o potencial turístico e cultural que esses artistas representam. Muitas vezes dá vontade de desistir".
Diante de um testemunho dessa importância, seria o caso de perguntar – sendo os órgãos públicos de cultura tão generosos com festas de rua, patrocinando bandas de nomes exóticos e nenhum valor cultural –, por que não se leva ao interior promoções como a Fenearte, que atrai para o Centro de Convenções de Pernambuco, todos os anos, as atenções de todo o Brasil, não apenas de amantes de arte mas, também, de donos de galerias? Ainda: por que não são criadas políticas públicas específicas para o artesanato no Agreste Meridional? O modelo já existe na cidade de Bezerros, onde um grande prédio abriga a produção dos artistas locais e de municípios vizinhos, com destaque para as xilogravuras, que têm também a sua grife em J. Borges, agora estendida aos seus descendentes, como aconteceu com Vitalino.
Uma política para o artesanato significa dar abrigo a vocações e a manifestações culturais que não podem ser tratadas como coisa sem maior importância pelos dirigentes públicos. A indústria que mais cresce no mundo, a do turismo, tem como expressão clássica a circulação dos símbolos de cada lugar por onde se passa. Os nossos municípios não são diferentes e os símbolos são sempre produtos da sensibilidade de nossos artistas populares.
Jornal do Comércio